O diretor Científico da ABHH, Carmino Antonio de Souza, explica que para ter acesso ao medicamento, muitos pacientes e familiares recorrem à justiça, individualmente ou por meio de Organizações Não Governamentais (ONGs) e outras instituições prática conhecida como “judicialização da saúde”.

 

Com exceção das doencas infecciosas, a medicina de hoje “paga” para retardar a evolução natural das doenças (pay for delay). Isso acontece com a leucemia mieloide cronica (LMC), por exemplo, em que provavelmente a terapêutica com  inibidores de tirosina quinase não curam, entretanto o paciente viverá por toda a vida com uma doença crônica, em vez de fatal, se tiver acesso ao tratamento adequado, como um doente com diabetes que usa a melhor insulina. “Hoje a medicina moderna, particularmente a oncologia, trabalha muito nesse sentido de qualidade de vida. Há várias doenças crônicas degenerativas que encaramos dessa maneira, como hipertensão, diabetes, tumores, e com as oncohematológicas não é diferente”, pontua Carmino de Souza.

Os pesquisadores apontam que com a revolução de drogas  pacientes passaram a viver por mais tempo. Com o objetivo de trazer à discussão o crescente aumento nos custos de medicamentos para leucemia mieloide crônica (LMC) e o impacto no tratamento de pacientes em todo o mundo, mais de 100 especialistas de mais de 15 países nos cinco continentes, incluindo o Brasil, redigiram em conjunto o artigo “Price of drugs for chronic myeloid leukemia (CML), reflection of the unsustainable cancer drug prices: perspective of CML Experts, publicado online em 25 de abril de 2013, na revista Blood, (fator de impacto 9.8), periódico científico de referência mundial em hematologia da Sociedade Americana de Hematologia (ASH, na sigla em inglês).  Sob a coordenação de Hagop Kantarjian, diretor do Departamento de Leucemia da University of Texas MD Anderson Cancer Center (Houston), a análise tem a participação de hematologistas brasileiros.

No artigo, os especialistas trazem um alerta à comunidade médica, às esferas governamentais, à indústria e todos os agentes envolvidos na terapêutica da doença, para a situação vivenciada no mundo.

Souza explica que a escolha da LMC como alvo da análise se deve a fatores como a situação vivenciada pelos países, em especial Estados Unidos, Canadá e Europa ocidental, locais em que a introdução de novas drogas são liberadas com mais rapidez pelas agências reguladoras (FDA; EMEA), com base nos altos níveis de evidência científica dos fármacos, consideradas incontestáveis. Outro aspecto se deve ao fato de a LMC ser considerada um modelo dentro da oncologia, por ter aberto “uma estrada quilométrica e larga no tratamento-alvo”, por meio da utilização dos inibidores de tirosina quinase. “Hoje, doze anos depois da introdução do imatinibe (primeira geração), deparamos com remédios novos, de segunda e terceira geração, mais seletivos e potentes, porém, com custos insuportáveis”.

Fomento ao desenvolvimento de novas tecnologias nacionais

Para promover o fomento da iniciativa pública em pesquisas no campo do desenvolvimento de novas tecnologias (medicamentos), Souza avalia que estabelecer parcerias entre as universidades e iniciativa privada, sendo o governo o órgão catalizador, é um caminho a se seguir.  Souza analisa que o Brasil hoje é muito dependente de tecnologia. A grande maioria dos fármacos é importada, e a indústria nacional normalmente é uma grande importadora e invasadora de produtos exportados de outros países.

A inovação traz lucro, porém, não de forma imediata. O Brasil precisa minimizar a dependência tecnológica e, de acordo com Souza, a fórmula é a educação. Segundo ele, é necessário formar educadores, ter unidades de excelência de ensino e centros de tecnologia de fármacos qualificados: ”Este é o único caminho para que o País se torne autossuficiente em determinados aspectos e ganhe credibilidade no mercado da ciência”.