Diante de notícias veiculadas recentemente sobre a possível transmissão do vírus Zika por transfusão de sangue, a Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH) emite nota para orientação da população, doadores e receptores de sangue e do público em geral. As informações são do presidente da entidade, Dimas Tadeu Covas, que também é professor Titular de Hematologia e Hemoterapia/Universidade de São Paulo.
1. O vírus Zika, à semelhança de outros arbovírus (Dengue, Chikungunya) é transmitido majoritariamente pela picada de mosquitos do gênero Aedes do qual o Aedes aegypti é universalmente distribuído no Brasil;
2. A transmissão transfusional do vírus Zika é evento raro da mesma forma que a transmissão transfusional dos vírus Dengue e Chikungunya;
3. Não existem, atualmente, testes laboratoriais de diagnóstico da infecção pelo vírus Zika que sejam registrados ou adequados para a triagem laboratorial de doadores de sangue;
4. Medidas de segurança e proteção relacionadas à transfusão de sangue baseiam-se na triagem clínica e epidemiológica dos doadores de sangue e são eficientes para identificar doadores sintomáticos ou com história clínica sugestiva da infecção e devem ser reforçadas juntos aos serviços de hemoterapia, em conformidade com a Nota Técnica 094/2015 da Coordenação Geral de Sangue e Hemoderivados do Ministério da Saúde (CGSH/MS);
5. Testes de biologia molecular “caseiros” (in house) não são testes validados ou registrados pelas autoridades sanitárias e seu uso não é recomendado pela ABHH para a triagem laboratorial de doadores de sangue, a não ser em protocolos de estudos aprovados por Comitês de Pesquisa institucional;
6. A ABHH reconhece que a medida mais eficaz para proteger a população e o estoque de sangue é o combate ao vetor Aedes aegypti;
7. Diante destas considerações e das evidências científicas disponíveis, a ABHH não reconhece que os estoques de sangue do Brasil, neste momento, estejam submetidos a riscos acrescidos que justifiquem a adoção de medidas adicionais (testes laboratoriais ou quarentena de hemocomponentes) em adição às medidas de triagem clínica e epidemiológica já mencionadas;
8. A ABHH, por outro lado, alerta e conclama a comunidade científica da área para aproveitar a oportunidade para a realização de estudos e pesquisas que venham a elucidar os riscos associados à transfusão na atual epidemia do vírus Zika que se aproxima.