A 6ª Conferência Brasileira de Linfoma e o 13º Lymphoma Interchange Meeting, realizados entre os dias 10 e 11 de abril, reuniram mais de 600 participantes em São Paulo. Carlos Chiattone, diretor clínico da Santa Casa de São Paulo, diretor da ABHH e chairman da conferência, abriu o evento com um breve histórico sobre o encontro e declarou que a Conferência tornou-se um marco importante para o atendimento multiprofissional dos pacientes. Segundo ele, o nível das apresentações e dos debates foi excelente e, pela primeira vez, o encontro focou em colocações sobre as dificuldades práticas de acesso ao diagnóstico e tratamento destas doenças.
Na primeira sessão, Volker Diehl, conhecido por sua pesquisa pioneira sobre linfoma de Hodgkin, apresentou a evolução biológica e clínica do linfoma de Hodgkin nos últimos 40 anos. Anas Younes apresentou a forma de tratamento do LH recidivado e refratário, bem como abordou a prática clínica e perspectivas futuras do brentuximabe. Otavio Baiocchi, professor adjunto e chefe da disciplina de Hematologia e Hemoterapia da Unifesp; e Valéria Buccheri, que atua no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, moderaram a atividade.
Ministrada ainda no dia 10, a segunda sessão contou com a moderação de Carmino de Souza, diretor científico da ABHH e Guilherme Perini, especialista em linfoma pela European School of Oncology. A ação recebeu exposição sobre linfomas de células T e Highlights do 7º T-Cell lymphoma Fórum – 2015 por Francine Foss, além de transplante de células tronco na primeira recidiva de LPTC por Anas Younes, professora do Cancer Center, localizado em Yale.
Linfomas indolentes, LLC e linfoma agressivo foram abordados no segundo dia (10/04) do encontro. O diretor médico doOncology Institute of Southern Switzerland, Michele Ghielmini, apresentou opções de quimioterapia para a primeira linha de tratamento dos linfomas indolentes. Segundo ele, qualquer quimioterapia deve ser associada ao rituximabe, pois esta foi a única droga que mostrou melhor sobrevida de pacientes. Mais tarde, Ghielmini também discorreu sobre qual conduta adotar para pacientes com linfoma folicular em recidiva e sobre a diferenciação de recidiva de pacientes abaixo e acima de 60 anos de idade. O especialista discorreu sobre radioterapia, radioimunoterapia, transplante autólogo e alogênico, entre outras condutas terapêuticas indicadas para este tipo de caso.
Durante o debate, o vice-diretor científico da ABHH, Roberto Passetto Falcão, questionou que o transplante alogênico em linfomas indolentes tem apresentado resultados positivos, mas que é necessário abordar os dois lados, do transplantador e do não transplantador. Ainda de acordo com ele, essa questão deve ser discutida com o paciente.
Andrew Davies, professor titular de Oncologia Médica da Divisão de Ciências do Câncer na University of Southampton School of Medicine, discorreu sobre os tratamentos livres de quimioterapia e apresentou os novos agentes para linfomas indolentes. Na ocasião, Davies comentou que o método não tem sido bem visto, mas afirmou que é possível melhorar o tratamento com uma abordagem sem quimioterapia. Segundo ele, há uma grande pressão em relação à toxicidade e o custo desse tratamento. Após apresentar estudos sobre várias drogas, concluiu que ainda é necessário entender melhor a biologia desses linfomas antes de “jogar fora” a quimioterapia.
Na sessão sobre linfoma agressivo, Davies também abordou o padrão-ouro do tratamento no paciente idoso. Já o chefe do Memorial Sloan Kettering´s Lymphoma Service, Anas Younes, compartilhou a sua expertise sobre linfoma difuso de grandes células B Myc/Bcl2. Na mesma sessão, Ghielmini questionou se o esquema R-CHOP é o tratamento adequado para pacientes com menos de 60 anos.
Na sessão de LLC, Veronique Leblond, professora e chefe do Serviço de Hematologia do Pitié Salpêtrière Hospital, apresentou o que há de novo na biologia e fatores preditivos no prognóstico da LLC o a doença residual mínima na LLC. John Gribben, professor e diretor do Experimental Cancer Medicine Centre e do Stem Cell Transplantation no Saint Bartholomew´s Hospital, discorreu sobre o anticorpo anti-CD20 que representa uma nova era no tratamento da LLC.
Presente na Conferência, o diretor científico da ABHH, Carmino Antonio de Souza, declarou que a Conferência e oLymphoma Interchange Meeting se transformaram no maior encontro de doenças linfoproliferativas da América Latina. “Com mais de 600 participantes, o encontro foi monotemático, com discussões aprofundadas, e mostrou que o Brasil acompanha de perto a evolução neste campo”, afirmou.
O diretor científico da ABHH avaliou que o Brasil avançou muito na área nos últimos 10 anos, inclusive em relação à LLC, onde a recente incorporação de novos fármacos e alvos específicos tem mudado a história dessa doença. Ainda de acordo com Carmino, no campo da doença de Hodgkin, que durante muitos anos foi trabalhada quimioterapia, radioterapia e transplante para os pacientes que recaíam, hoje existem drogas alvo específicas muito importantes, como o anti-CD30, que está chegando ao mercado. Outro destaque, segundo Carmino, é o interesse pelos linfomas T. “Há um grande desafio, por serem doenças muito agressivas com poucas opções terapêuticas e altas taxas de mortalidade.” Segundo ele, consórcios internacionais trabalham hoje no sentido de entender essas doenças do ponto de vista epidemiológico, clínico e biológico, para conseguir abrir novas avenidas que possam beneficiar esses pacientes. “É uma estrada que vem sendo pavimentada no mundo inteiro e acho que quando os esforços se somam, a tendência é que conseguirmos abrir as janelas para o progresso e para a melhoria dos resultados e da qualidade de vida dos pacientes.”