aids-108235_640Grande parte das pesquisas recentes contra o HIV foca no desenvolvimento de vacinas, mas as mutações constantes sofridas pelo vírus são um entrave considerável nesse sentindo. Por conta desse obstáculo, cada vez mais cientistas têm voltado os olhos para estratégias de eliminação da Aids por meio da imunoterapia, intervenção que estimula o sistema de defesa da pessoa infectada. Norte-americanos detalham na edição de hoje da revista Nature os efeitos de um anticorpo que conseguiu conter o avanço do perigoso micro-organismo em humanos.

Desenvolvido em laboratório sob a liderança do brasileiro Michel Nussenzweig, pesquisador da Universidade de Rockefeller, o anticorpo 3BNC117 já havia sido testado com sucesso em ratos e primatas modificados para responder à contaminação de forma semelhante à de pacientes. “Ele pode prevenir a infecção e suprimir o vírus em camundongos e macacos ‘humanizados’, mas o seu potencial para o HIV humano em imunoterapia ainda não havia sido analisado”, justificaram os autores no texto divulgado.

Clonada a partir de um paciente infectado com HIV, a molécula foi, então, testada em dois grupos de pessoas: 12 não tinham o vírus e 17 eram soropositivas, sendo que duas estavam em tratamento com antirretrovirais. O anticorpo foi aplicado nos voluntários em dose única e neutralizou o vírus da Aids, impedindo que ele abordasse os linfócitos CD4, porta de entrada do vírus no organismo humano. Assim, houve queda significativa da carga viral entre o 4º e o 28º dia. Após esse período, a quantidade do patógeno no sangue começou a subir. Cinquenta e seis dias depois da intervenção, chegou ao mesmo nível de antes da injeção em quatro dos oito voluntários.

O 3BNC117 mostrou-se eficaz sobre a maioria das cepas do HIV. Foi “bem tolerado” e não apresentou efeitos colaterais sérios. Os cientistas também notaram que o tempo de ação do anticorpo foi maior nos voluntários que não tinham o vírus da Aids. “Concluímos que o 3BNC117 tem ação consistente em indivíduos não infectados e uma taxa ligeiramente mais rápida de deterioração nos contaminados”, resumiram no artigo.