Principal dificuldade de tratamento é acesso a substâncias na rede pública de saúde e as não aprovadas no Brasil

O mieloma múltiplo é um câncer originário da medula óssea, tecido formador de célula de sangue que está no corpo todo, e pode ser assintomático ou sintomático, ou seja, ter sintomas que se manifestam – como anemia, fraqueza e dor nos ossos – ou não quando a doença é diagnosticada precocemente. Originária dos plasmócitos, células responsáveis pela produção dos anticorpos que são proteínas que identificam e destroem agentes infecciosos (imunoglobulinas), o mieloma é um câncer maligno.

O tratamento para a doença que não cura, mas que pode se tornar crônica, a partir de um processo que inclui associação de medicamentos, auto-transplante de medula e também quimioterapia. Além da utilização de, pelo menos, três substâncias que podem ser utilizadas juntas ou em momentos separados, porém nem sempre há disponibilidade para pacientes que se tratam na rede pública, independentemente da esfera, seja municipal, estadual e federal.

Diretor da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), Angelo Maiolino, explica que no mundo há uma vasta opção de novas drogas que ainda não chegaram no Brasil, sendo que algumas essenciais não foram aprovadas.

A associação mais utilizada é o bortezomibe – fornecido pelos planos de saúde, mas com distribuição irregular pelo SUS – e a lenalidomida – um imunomodulador que não provoca neuropatias (formigamentos), disponível em 70 países, inclusive da América Latina (alguns já têm a terceira geração da droga, a pomalidomida), porém, ainda é enfrentada longa batalha para trazê-la ao Brasil. Com essa combinação de reagentes e o transplante, há uma boa resposta clínica. Para os pacientes elegíveis para transplante, há combinação de três medicamentos com taxas de até 90% de resposta com ciclos de talidomida/ dexametasona/bortezomibe.

“Para tornar o mieloma múltiplo uma doença crônica, é necessária uma associação de medicamentos após o autotransplante de células hematopoéticas, procedimento realizado em pacientes de até 65 anos. Essas células são congeladas a -96° C e implantadas novamente após a quimioterapia. O segundo passo é o uso de medicamentos”, informa Maiolino, que também é professor de hematologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Para o hematologista, o que ocorre no Brasil é uma incompreensão. Há possibilidade de o mieloma ser uma doença crônica, mas é preciso tratar com novas drogas, como a lenalidomida e novos medicamentos para combinações eficazes. “O impedimento de acesso ao medicamento é inaceitável. Temos um grande número de novas drogas que não são inseridas. A última para o mieloma foi o bortezomibe, que demorou mais que o habitual. Não podemos aceitar isso – não só o problema no registro, mas também problemas na incorporação e distribuição dessas novas drogas e falta de acesso a novos medicamentos”, pontua.