O que muitas pessoas acham ser sintomas da osteoporose (enfraquecimentos dos ossos), na verdade, pode estar ligado a um tipo raro de câncer do sangue chamado mieloma múltiplo. Como os sintomas das duas doenças são parecidos, e incluem dores nos ossos, anemia e fraqueza, na maioria dos casos, o diagnóstico é tardio – e é feito por meio de exame de sangue e de urina. Além disso, existe outro problema: um medicamento chamado lenalidomida, usado como parte do tratamento, e autorizado em 80 países, é proibido no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
De acordo com o médico Angelo Maiolino, diretor da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular, cerca de 30 mil pessoas são portadoras de mieloma múltiplo no país. O tratamento consiste em quimioterapia associada a medicamentos por via oral. “Na profilaxia ideal, para inibir o avanço da doença, são utilizadas três substâncias que retardam os efeitos do câncer: bortezomibe, talidomida e lenalidomida. Com isso, chegamos a um aumento da sobrevida do paciente de três para 10 anos, além de diminuir os sintomas debilitantes”, explica o especialista.
Segundo a Anvisa, a lenalidomida teve seu registro negado em 2012 porque não foi apresentado um estudo clínico comparando o produto a outro com igual indicação terapêutica, e que já esteja em uso no mercado. Também não foi entregue ao órgão de fiscalização um plano de diminuição de riscos, ou seja, prevenir o nascimento de crianças com má-formação – já que o medicamento tem efeitos teratogênicos semelhantes aos da talidomida.
Em nota à reportagem, a Anvisa afirma que mantém a decisão e que “O laboratório Zodiac Produtos Farmacêuticos S/A [que detém a patente do remédio] poderá, em qualquer momento, apresentar novo pedido de registro do medicamento em questão e este poderá ser aprovado, desde que cumpridos os requisitos exaustivamente debatidos durante todo o período de tramitação”.
Alternativa
Outra opção de tratamento, além da medicação, é o transplante de células tronco-hematopoéticas (TCTH). Esse processo utiliza as células-tronco do próprio paciente após tratamento médico. O material é coletado antes do início da quimioterapia, que causa lesões tóxicas na medula. As células-tronco, após coletadas, são congeladas em até -178ºC e, no dia da intervenção cirúrgica, são descongeladas e aplicadas por via intravenosa no paciente.
Com a aplicação, as células vão diretamente para a medula, e como não sofreram intoxicação pela quimioterapia, resgatam a funcionalidade do órgão em um curto período de tempo.
Porém, esse transplante é recomendado para pacientes com até 70 anos, já que, após essa idade, os riscos da intervenção são maiores. “O TCTH é indicado a partir da avaliação do quadro clínico do paciente. O procedimento em pessoa acima dessa idade tem resultados mais dúbios do que os que estão na faixa etária indicada”, afirma o hematologista Angelo Maiolino.
Fonte: Encontro