Em comunicado assinado pelo CEO e pelo Head do Departamento Médico enviado à comunidade médica recentemente, o Laboratório Pierre Fabre anunciou que, “a depender da demanda”, dentro dos próximos meses, o medicamento Bussulfano deixará de ser disponibilizado no mercado brasileiro. A droga é essencial para tratamento antes do Transplante de Medula Óssea que, segundo dados do Registro Brasileiro de Transplantes (2019), salva quase mil vidas entre crianças e adultos anualmente no Brasil.
“Temos observado muitos avanços em relação ao tratamento de pacientes que necessitam de Transplante de Medula Óssea e fomos pegos de surpresa com este anúncio”, alerta o Dr. Angelo Maiolino, hematologista, professor da UFRJ e coordenador do Comitê de Acesso a Medicamentos da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH). “Tal decisão pode acarretar uma nova cruzada científica e impedir que combinações de drogas e tratamentos de ponta salvem vidas, como temos observado nos últimos anos”, completa.
Maiolino fala, por exemplo, sobre uma recente conquista para TMO brasileira, submetida aos órgãos regulatórios em Saúde pela ABHH, que foi a ampliação para 75 anos sobre a idade limite para um paciente ser elegível ao transplante no Brasil. “Com o progresso das técnicas, garantindo procedimentos mais seguros e controlados, passou a ser possível ao médico avaliar mais a idade biológica do paciente e não somente a cronológica”, comenta ao novamente alertar que a descontinuação do Bussulfano pode acarretar regresso neste cenário.
Nos congressos americano e europeu que debatem avanços científicos em tratamento de doenças de sangue, afirma Maiolino, há uma série de ensaios, pesquisas e anúncios de novas drogas e tratamentos que dão esperança a pacientes que dependem do TMO. “Há, contudo no Brasil a partir deste anúncio, um descompasso entre o que vemos lá fora para mantermos o que estamos buscando de mais evoluído para salvar essas vidas”, diz.
Desde o final de novembro, a ABHH, a Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea, a Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica e a Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia estão mobilizadas junto à Anvisa para que o cenário seja o mais prontamente revertido, mediante a alguma decisão que possa manter a esperança de pacientes – adultos e crianças – elegíveis ao transplante.