Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular participou de workshop internacional que abordou novidades de tratamentos e medicamentos em todo o mundo

A Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), representada pelo diretor Angelo Maiolino, hematologista especialista e pesquisador em mieloma múltiplo, participou da 15ª edição do Internacional Myeloma Workshop, organizado pela Internacional Myeloma Society, realizado em Roma, Itália, entre os dias 23 e 26 de setembro.

Maiolino moderou a mesa-redonda sobre tratamento de pacientes jovens que reafirma o papel do transplante como o de primeira linha, aquele indicado logo após o diagnóstico da doença. “Mesmo no contexto de novos medicamentos, hoje em dia temos a talidomida e a lenalidomida, esta última ainda não aprovada no Brasil. Temos um novo grupo de anticorpos monoclonais que entra com muita força como o daratumumabe e o elotuzumabe ”, explica Maiolino que também é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Mesmo com a utilização de novos inibidores da proteassoma como carfilzomibe e imunomodulares como a lenalidomida, pomalidomida e a dexametasona, que têm bons resultados, no workshop foi apresentado o resultado preliminar de um estudo Franco –Americano  que comparou transplantes realizados em estágio precoce e tardio da doença em pacientes jovens e constatou-se que fazer o transplante de medula óssea autólogo (aquele que utiliza a medula do próprio paciente) precocemente aumenta o tempo de sobrevida dos pacientes.

“Há altas taxas de respostas de 70 a 80%, um cenário muito positivo e importante. No evento foi apresentada uma prévia do estudo desse transplante em tratamento de primeira linha, além da combinação de velcade, lenalidomida e dexametasona. Fazer o transplante mais cedo apresenta vantagens rápidas para a doença. O estudo foi apresentado de forma preliminar e será exposto completo no congresso da Associação Americana de Hematologia, que será realizado em Orlando, Estados Unidos, entre os dias 5 e 8 de setembro”, ressalta o médico.

Procedimento terapêutico capaz de reverter o prognóstico de pacientes com doenças benignas e malignas (cânceres), tais como linfomas, leucemias, tumores sólidos e, até mesmo, doenças autoimunes, o transplante de medula óssea (TMO) consiste na “aspiração” de células-tronco hematopoieticas da medula óssea ou do sangue periférico por aferese que são transferidas do tecido (medula) como um todo ou de células selecionadas do próprio paciente ou de doador compatível, aparentado ou não.

O transplante autólogo utiliza as células-tronco do próprio paciente após tratamento médico. Essas células-tronco são coletadas antes do início da quimioterapia, que causa lesões tóxicas na medula. As mesmas são coletadas, congeladas até 178 graus negativos em refrigerador apropriado e no dia da intervenção são descongeladas e aplicadas via intravenosa no paciente.

Com a aplicação, as células vão para a medula e como não sofreram intoxicação com as substâncias da quimioterapia, resgatam a funcionalidade em um curto período de tempo. Como as células serão regeneradas, a dosagem da quimioterapia pode ser alta, pois o organismo do paciente estará protegido para receber os possíveis efeitos colaterais.

Outra discussão foi a ampliação do identificador de pacientes mais velhos candidatos ao TMO autólogo, cujos aspectos da idade biológica e não da idade cronológica são considerados, com critérios mais objetivos de avaliação de riscos e comorbidades que quando bem ampliados podem ser bem avaliados. Pois, paciente de 75 anos pode ter estado frágil, enquanto outro da mesma idade pode ter melhor condição, o que pode beneficiar com o TMO como um prolongador de vida.

“No Brasil, ainda não alcançamos o resultado de progressão de vida de três para 10 anos, dado significativo, devido ao atraso de aprovação de medicamentos e a dificuldade de acesso pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Além dessa dificuldade, também temos a indisponibilidade de leitos especializados para o TMO autólogo que é bastante insuficiente para atender toda a demanda dos pacientes de mieloma e outras doenças que demandam o procedimento. O tempo ideal de realização do TMO autólogo no mieloma é de seis meses a um ano, após o início do tratamento, mas em muitos casos no SUS, o paciente aguarda mais de um ano para a realização do processo, que acontece geralmente após completar vários ciclos de quimioterapia, o que não tem sentido”, reforça Maiolino.