Sucesso de público! O Simpósio sobre Terapias Avançadas: Células e Genes (TACG), realizado pela Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), reuniu cerca de 320 participantes, do Brasil, dos Estados Unidos e da Europa, na capital paulista. O evento aconteceu nos dias 30 e 31 de agosto, e a programação discutiu pesquisas clínicas e bioquímicas, e questões regulatórias sobre células CAR-T no país.
Segundo o presidente da ABHH, Dr. Dante Langhi Jr., o uso de terapia com CAR-T mudou o cenário do tratamento de algumas doenças, como a leucemia: “Em alguns pacientes, com doenças recidivadas ou refratárias, com opções limitadas de tratamentos, a terapia tem demonstrado respostas impressionantes. Esse é sem dúvida um passo importante e promissor no campo da terapia celular”.
Cenário atual das pesquisas
Para o Dr. Carmino Antonio de Souza, ex-presidente da ABHH e atual coordenador dos Comitês Técnicos Científicos Assessores da entidade, a Associação sempre discutiu a terapia celular, mas relacionada a outras terapêuticas. Com o evento, resolveu fazer uma atualização específica em células CAR-T com a participação de especialistas brasileiros e internacionais: “A terapêutica do transplante é antiga, mas o movimento é novo e cientificamente promissor”, ressalta.
O Dr. Souza, que também é professor de Hematologia e Hemoterapia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), explica que as células CAR-T são uma nova forma de se obter células T imunológicas, um grupo de glóbulos brancos, presentes no sangue e responsáveis pela defesa do organismo. Também chamadas de linfócitos T, essas células são modificadas em laboratório, acrescentando-se a elas um receptor de antígeno quimérico, o CAR-T, conforme a célula cancerígena invasora, que é identificada e combatida mais rapidamente.
“Esses linfócitos T são separados do próprio paciente, manipulados em laboratório e voltam para ele durante a terapêutica. Para se comparar com o transplante de medula, por exemplo, a terapia celular utiliza enxertos manipulados. Como todo procedimento pioneiro, ele ainda tem muito a ser desenvolvido. Mas hoje já apresenta resultados promissores para leucemia e mieloma, tipos de câncer no sangue”, complementa o coordenador dos Comitês Técnicos Científicos Assessores da ABHH.
Regulação no Brasil
Toda terapia precisa ser regulada para ser utilizada clinicamente, no dia a dia dos hospitais do Brasil. Alguns órgãos são responsáveis por essa regulação, como o Conselho Nacional de Saúde (Conep), os Comitês de Ética do governo federal e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que esteve presente no TACG. Jão Batista da Silva Junior, gerente de Sangue, Tecidos, Células e Órgãos (GSTCO) da Anvisa, indicou que conta com a ABHH para discutir a regulação das células CAR-T no país.
Hoje atuando como Secretário Municipal de Saúde de Campinas (SP), o Dr. Souza esclarece que órgãos e gestores públicos da saúde devem trabalhar pela população brasileira, para que procedimentos como as células CAR-T possam chegar ao sistema público de saúde: “Nós ainda temos que avançar para torná-lo acessível e prático. Não é questão de custo ainda. Mas dinheiro é meio e não é fim. Se isso funcionar, acaba vindo para nível de preço aceitável para o país, como foi com o transplante de medula óssea”.
O presidente da ABHH explica ainda que a natureza competitiva no desenvolvimento de novas drogas e o alto custo dos ensaios clínicos, associados aos riscos inerentes à toxicidade ao paciente, reforçam a necessidade da seleção criteriosa das prioridades no desenvolvimento das terapias com as células CAR-T. “Aspecto da maior relevância ainda é a acessibilidade a esse tipo de tratamento em países como o Brasil”, complementa.
“A ABHH é protagonista consolidada nas áreas de Hematologia e Hemoterapia. E a Terapia Celular é algo que também nos preocupa, pois precisamos ter limites éticos, regulação e participação das associações e da sociedade. Somos hoje a entidade que representa a Associação Médica Brasileira (AMB) na área de terapias celulares. Numa visão científica e educacional, a Associação também participa de Comissões da Anvisa comissões e do Conselho Federal de Medicina (CFM) para que isso aconteça”, ressalta o Dr Souza.
“Esse simpósio possibilita discussões técnicas e científicas que permeiam as fronteiras da medicina. Também, tenho certeza, coloca luz na questão da acessibilidade dos pacientes a novos tratamentos”, conclui o Dr. Langhi Jr.