Discussões darão origem a documento que será entregue às autoridades responsáveis pela definição das políticas na área

Especialistas com ampla competência e experiência em hemoterapia apresentaram evidências baseadas na literatura científica sobre as novas tecnologias no 1º Fórum da ABHH sobre Novas Tecnologias em Hemoterapia. O encontro reuniu aproximadamente 50 pessoas, entre hematologistas, hemoterapeutas e profissionais de áreas correlatas, no Hemocentro da Unifesp, no dia 26 de setembro.

O diretor da ABHH, José Orlando Bordin, iniciou a programação com a sessão sobre leucodepleção universal. Apesar de não ser uma tecnologia nova, Bordin enfatizou que a sua implementação causa controvérsia.

Após introduzir o tema, José Mauro Kutner, do Hospital Israelita Albert Einstein, apresentou evidências a favor da leucodepleção. Ele discorreu sobre os benefícios, como a redução da frequência e gravidade de RFNH e risco de transmissão do CMV, e destacou que a maioria dos países europeus fazem leucodepleção universal em 100% de seus produtos. Ainda de acordo com Kutner, há evidências de redução de mortalidade por meio da técnica. Na sequência, Gil Cunha de Santis, do Hemocentro de Ribeirão Preto, defendeu sua posição contrária à implementação da tecnologia e questionou os custos.

No debate, os presentes questionaram que o argumento financeiro não basta. Para o diretor da ABHH, Dante Langui Jr., é necessária uma avaliação de custo-efetividade, pois os recursos são finitos. “Qualquer nova tecnologia exige estudo para ser implantada”, afirmou.

Mariza Aparecida Mota, do Hospital Israelita Albert Einstein, introduziu a discussão sobre genotipagem eritrocitária extendida por técnica de microarray. Na sequência, Luiz de Melo Amorim Filho, do Hemorio, apresentou os prós e os contras da tecnologia de microarranjos. Segundo o especialista, a técnica elimina tipagem ABO e RH. Porém, por ser um processo demorado, não é indicado para casos urgentes. Ainda de acordo com ele, o método possibilita eliminação de prova cruzada, mas exige cross match eletrônico e softwares robustos.

Após apresentar as evidências aos participantes do Fórum, Luiz Amorim concluiu que os microarrays devem ser indicados para pacientes falcêmicos. Na opinião do especialista, a nova tecnologia irá conviver algum tempo com as técnicas clássicas e a substituição se dará paulatinamente.

A sessão sobre detecção universal de anticorpos anti-leucocitários (HNA-HLA) em doadores de sangue foi conduzida pelo diretor da ABHH, Antonio Fabron Jr. que, em seguida, apresentou evidências a favor da técnica. Na sequência, o presidente da ABHH, Dimas Tadeu Covas, apresentou as evidências contrárias à utilização da tecnologia.

No período da tarde, a diretora do Centro de Hemoterapia de Castilla y León, Espanha, Lydia Blanco Peris, conduziu a sessão sobre inativação de patógenos em plaquetas e compartilhou com os presentes a experiência espanhola com a técnica. Gil Cunha de Santis apresentou as vantagens da técnica e, Luiz de Melo Amorim Filho, as desvantagens.

A última sessão debateu a detecção universal de contaminação bacteriana em plaquetas. Após José Eduardo Levi, da Fundação Pró-Sangue/Hemocentro de São Paulo, discorrer sobre a técnica, Dante Langui Jr., diretor da ABHH, e Benedito de Pina Almeida Prado Jr., do Hemocentro de Ribeirão Preto, debateram as evidências sobre a tecnologia. Na ocasião, Langhi Jr. se declarou a favor da técnica, mas alertou a necessidade da tomada de decisões baseada em estudos científicos e econômicos.

As discussões do 1º Fórum da ABHH sobre Novas Tecnologias em Hemoterapia darão origem a um documento elaborado pela Associação que será entregue às autoridades responsáveis pela definição das políticas na área. Segunda Langhi Jr., as discussões foram positivas, pois apresentaram evidências baseadas em literatura científica e diferentes pontos de vista. Covas reiterou que os debates foram positivos e afirmou que o formato do Fórum foi um piloto e será aperfeiçoado para tornar as discussões das próximas edições mais assertivas.