Durante o V Encontro Anual do Comitê de Glóbulos Vermelhos e do Ferro da ABHH e V Congresso Mercosul de Anemia, que aconteceu nos dias 6 e 7 de julho de 2012, a equipe da News ABHH conversou com o convidado internacional Miguel Abboud, que apresentou a conferência Prevenção e Tratamento das Complicações Neurológicas na Doença Falciforme.
Abboud é mineiro, mas aos 10 anos de idade foi com a família morar no Líbano, onde estudou pediatria na Universidade Americana de Beirute. Após a graduação, mudou-se para os Estados Unidos para especializar-se em hematologia pediátrica na Cornell University, em Nova Iorque.
Após cinco anos, tornou-se professor assistente na University Medical of South Carolina, onde realizou estudos clínicos e tratou diversos pacientes com anemia falciforme. Depois de 18 anos de trabalho na instituição, voltou ao Líbano em 2002 para dirigir o Centro de Câncer Infantil da Universidade Americana de Beirute. Hoje, Abboud é chefe do departamento de pediatria da mesma universidade em que se formou, no Líbano.
Confira agora a entrevista com o especialista e conheça alguns dos avanços no tratamento da anemia falciforme no mundo.
News ABHH – Em sua opinião, qual o maior desafio de um hematologista ao tratar um paciente com falciforme?
Abboud – Ainda existem alguns obstáculos a superar. Estamos lidando com uma doença crônica, que precisa de atenção constante; e mesmo que falemos “tome uma hidroxiureia por dia”, quase ninguém consegue.
A anemia falciforme pode ter repercussões muito sérias, então é preciso sempre um time multidisciplinar atuante coordenado por um centro especializado na doença. Precisamos de hematologistas e também de pneumologistas, nefrologistas, cardiologistas e outros profissionais.
News ABHH – Fale um pouco da evolução terapêutica nos últimos anos.
Abboud – Nos últimos 20 a 25 anos, não tínhamos quase nada a oferecer a esses pacientes, exceto morfina; hoje temos hidroxiureia, transfusão e transplante de medula óssea, além de maneiras de definir pessoas que correm alto risco de enfarte cerebral. As modalidades de tratamento ou de definição da severidade da doença melhoraram muito, e é primordial aplicar isso para uma população em geral desfavorecida financeira e medicamente, e que fica ainda mais desfavorecida em razão da doença.
Um dos maiores desafios em termos de tratamento, por exemplo, é a crise de dor. Muitas pessoas que não compreendem a doença podem pensar que o paciente é um viciado em medicação, quando, na verdade, as populações falcêmicas no mundo inteiro buscam a morfina porque têm dor, e quando sentem melhora, não procuram mais.
Precisamos superar o estigma que existe sobre a doença, trazendo todos esses avanços técnicos para o paciente desfavorecido.
News ABHH – Qual a importância de trazer a anemia falciforme à discussão nesta quinta edição do Encontro?
Abboud – É importante abordar o tema em uma reunião como esta, onde há muitos especialistas, para difundir as novas informações e reforçá-las entre os hematologistas. Com isso, podemos discutir juntos os avanços no tratamento da anemia falciforme, para que estes cheguem a cada médico e cada enfermeiro em seu local de trabalho.
Embora haja no Brasil um programa hoje muito avançado, a anemia falciforme ainda é uma doença em fase de reconhecimento em diversos países do mundo, e cuja maioria dos pacientes se encontra em regiões de recursos limitados, como Líbano e África.
Por meio deste Encontro, podemos debater os desafios diagnósticos e terapêuticos, os avanços técnicos, o papel da triagem neonatal e o acesso dos pacientes aos tratamentos.