Cientistas do Brasil e Estados Unidos publicaram no The Journal of Clinical Investigation (JCI) – volume 35, ed. 05, de 1º de maio – suas mais recentes descobertas no campo da pesquisa com células-tronco pluripotentes (iPS) como terapêutica da anemia aplástica (AA), doença hematológica em que a célula-tronco hematopoética praticamente desaparece e, portanto, a medula óssea para de produzir células do sangue, como hemácias, glóbulos brancos e plaquetas.

Juntos, pesquisadores dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos e o brasileiro Rodrigo T. Calado, do Centro de Terapia Celular do Hemocentro de Ribeirão Preto (CTC-HRP), buscaram dar seguimento na demonstração de que quando se deriva células (iPS) de um paciente com telômeros muito curtos, estas células conseguem alongar seus telômeros, aumentando a capacidade de se multiplicar. Telômeros são as pontas dos cromossomos cuja função é protegê-los de possíveis danos no DNA. “O que estamos buscando é como estas células iPS alongam seus telômeros para que seja possível ativar os mecanismos das células-tronco hematopoéticas, que produzem sangue”, relata Calado.

O pesquisador explica que o estudo contribuiu para descobrir fragilidades e verificar em quais pontos ainda é necessário progredir nas pesquisas de reprogramação celular e alongamento telomérico em pacientes com anemia aplástica. “Neste artigo verificamos ser possível estabelecer a reprogramação das células de pacientes com anemia aplástica e deficiência da telomerase. Com isso, em um futuro próximo poderemos utilizá-las no tratamento da doença”, relata Calado.

Entretanto, enquanto as células normais conseguiam alongar os telômeros durante a reprogramação, ou seja, rejuvenescer os telômeros destas células, os pacientes que tinham mutação apresentaram dificuldade no alongamento. “Se corrigirmos os telômeros ou a enzima que falta, será possível corrigirmos esta diferenciação?” – esta ainda é uma dúvida dos pesquisadores.

Os pesquisadores verificaram que fatores ambientais, como por exemplo a concentração de oxigênio durante a cultura da célula, também podem  modular o alongamento telomérico destas células. “Quanto menos oxigênio houver, mais longos ficam os telômeros. Isso nos mostra que a concentração deste elemento químico pode modular ou contribuir para este processo celular”, relatou Calado.

Ainda é necessário entender como a concentração de oxigênio modificou a expressão da telomerase e a estabilidade dos cromossomos. A partir deste entendimento será possível tentar as vias teloméricas para tentar melhorar a função das células do sangue nestes pacientes com anemia aplástica.  Outro aspecto verificado está ligado à contribuição de fatores genéticos nas alterações cromossômicas.

Metodologia

Foram observados quatro pacientes, dos quais foram coletados material extraído dos fibroblastos da pele do paciente, que são células maduras, e/ou da própria medula óssea, que são as células-tronco mesenquimais.

Segundo Calado, a metodologia adotada no estudo foi a reprogramação da célula madura ao estágio de pluripotência induzida, semelhante ao observado em células-tronco embrionárias.  Por meio deste padrão, as células são transformadas em imaturas e passam a ter capacidade de se transformar em qualquer tipo de tecido do organismo adulto. “Qualquer célula madura e especializada do organismo pode ser reprogramada para um estado de pluripotência, ou seja, células-tronco adultas podem ser “resetadas” para se transformar em uma célula com as mesmas características de uma célula-tronco embrionária”, explica Calado.

Este modelo é baseado nas descobertas do cientista japonês Shinya Yamanaka, que em 2012 recebeu o Nobel de Medicina por suas descobertas neste campo. Ele criou o padrão utilizado por pesquisadores em todo o mundo de reprogramação celular por meio do uso das células iPS (sigla inglesa de “células-tronco pluripotentes induzidas”).

Apresentação de resultados à comunidade brasileira

Os resultados deste estudo serão apresentados pela primeira vez no Brasil, durante a conferênciaUSP-Paris-Diderot Simpósio de Hematologia e Imunologia. O encontro acontece nos dias 9 e 10 de maio, e é organizado pela FMUSP e FMRP-USP, com apoio da Pró-Reitoria de Pesquisa USP e da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH). (leia mais)

Acesse o Research Article em “Defective telomere elongation and hematopoiesis from telomerase-mutant aplastic anemia iPSCs”

Published in Volume 123, Issue 5 (May 1, 2013)
J Clin Invest. 2013;123(5):1952–1963. doi:10.1172/JCI67146.
Copyright © 2013, American Society for Clinical Investigation

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