Nas 12 aulas ministradas durante o curso da Escola Brasileira de Hematologia (EBH) sobre Trombose e Hemostasia, realizado na cidade de São Paulo, entre os dias 1 e 3 de setembro, os mais de 200 participantes interagiram com os palestrantes na discussão dos temas e dos casos clínicos apresentados. As mesas moderadas por Daniel Dias Ribeiro, coordenador do evento, Paula Villaça e Dayse Lourenço, membros da comissão científica do curso, trouxeram conceitos estabelecidos das hemostasias com temas centrais e atualização sobre aspectos clínicos da trombose.
A primeira aula foi apresentada por Andrea Aparecida Garcia, hematologista do Hemocentro de São José do Rio Preto, que abordou a fisiologia da coagulação com conceitos estabelecidos de hemostasia que recebem nova valorização e visão, e a discussão desses novos fundamentos. Já Maria Carolina Tostes Pintão, assessora médica em hemostasia do Fleury, apresentou testes globais da coagulação com aspectos técnicos e aplicação. “A avaliação das etapas da coagulação é feita de forma bem fragmentada. Análises de plaquetas, funções plaquetárias, doses de fatores da coagulação, fatores de sistema fibrinolíticos, além das dosagens das proteínas, olhamos para tempo de protrombina, trombina e trombosplatina”, explica a hematologista.
A avaliação laboratorial da função plaquetária ficou a cargo de Tânia Rubia Flores da Rocha, farmacêutica-bioquímica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP), que explicou que testes de função plaquetária são vastos. “Muitas vezes, se esquece de fazer uma avaliação clínica, como históricos familiar e pessoal, score de sangramento, mas é necessário avaliar diversos aspectos antes de começar a investigar, mas se tiver uma história positiva para todas essas avaliações, fazer um estudo preliminar a começar por testes de rotinas naturais, contagem de plaquetas, DVW, entre outros”, ressalta Tania.
Sobre o papel do hematologista no acompanhamento obstétrico, a gestação por si só é considerada um fator de risco desencadeante e independente de fatores como trombofilia e cesárea é fator de risco maior do TEV. Essa indicação é de Élbio D’Amico, membro do Comitê de Hemostasia e Trombose da ABHH, que ressaltou que todas as gestações sempre se resultam em estado de hipercoagulabilidade, pois é uma proteção para a grávida no momento do descolamento da placenta.
Ao abrir o segundo dia de atividades, Ana Clara Kneese, da Santa Casa de São Paulo e membro do Comitê de Trombose da ABHH, abordou fatores associados a trombose, de acordo com a classificação de 2008 da World Health Organization (WHO), que são idade, risco cardiovascular, antecedente de trombose, mutação de JAK2 V617F e leucocitose. A aula sobre HPN e TEV relacionou que essa relação rara, mas desafiante para quem trabalha com coagulação, pois segundo Audrey Kruse Zeinad Valim, do HC/FMUSP, além da trombose apresenta casos hemorrágicos e é preciso agir rápido, o que é difícil. A linha do tempo da HPN apresentada por Audrey citou que o primeiro caso descrito foi em 1794 e que só em 1993 a doença em si foi descrita.
Paula Villaça, também do Comitê de Hemostasia da ABHH e do HC/FMUSP, atualizou os participantes sobre PTI, com apresentação de drogas para tratamento a longo prazo e uso em casos de remissão. O tratamento para PTI tem efeito colateral e se o paciente apresentar o risco de sangramento, é preciso avaliar e considerar a profilaxia de trombose e escolher a terapêutica de acordo com os riscos. A trombose nas anemias hemolíticas congênitas, abordada por Guilherme Henrique Hencklain Fonseca, do HC/FMUSP, tem defeitos intrínsecos e defeitos extrínsecos. A associação de trombose com anemias hemolíticas foi relacionada em 1886, ou seja, não é algo novo. “Doença falciforme é a que chama mais atenção de todas as doenças embolíticas para trombose, mas a estomacitose também deve ter sua atenção. Em todos os casos houve esplenectomia, não só risco infeccioso, mas também risco trombótico”, explica o hematologista.
No tema hemofilia, Margareth Ozelo, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), trouxe a evolução do tratamento desse distúrbio genético, cujo tratamento de reposição por plasma ou recombinante é a única forma do controle para prevenção dos episódios hemorrágicos, e declarou que há estudos para que os primeiros produtos de longa duração com potenciais usos de redução de frequência e dose, que aumentam a aderência no tratamento, estão em andamento.
Em uma das aulas mais esperadas, sobre trombose venosa profunda na infância, os alunos tiveram aprendizado sobre a doença cujos estudos e conhecimento avançaram muito, porém tudo o que se sabe hoje sobre trombose é pelas pesquisas e acompanhamento em adultos. “Quando falamos de trombose em criança, ela é rara, porém vem crescendo muito, com aumento de 10% de incidência, com 58 para cada 10 mil pacientes”, explica Jorge Carneiro, membro do Comitê de Trombose e Hemostasia da ABHH.
O último dia, 3 de setembro, foi marcado por apresentações de Luciana Corrêa de Oliveira, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, sobre tromboprofilaxia, que é caracterizada como mecânica quando há risco de sangramento e abordagem do sangramento associado ao ACOAE por Joyce Maria Annichino-Bizzacchi, da Unicamp, que explicou sobre o manejo do paciente com sangramento e necessidade de avaliação das condições clínicas como mudanças hepática e de peso, além da idade. Dayse Maria Lourenço, moderada da mesa e Coordenadora do Curso de Graduação em Hematologia da UNIFESP, explorou o assunto de anticoagulantes orais com alvo específico e Daniel Dias Ribeiro, coordenador científico do evento, apresentou aspectos sobre quando parar com a anticoagulação a partir da exposição de casos clínicos e estudos científicos.
As fotos do evento estão disponibilizadas na página do Facebook da ABHH: goo.gl/OdKbhc. As aulas estarão disponibilizadas aos participantes que receberão por e-mail instruções sobre como adquirir o conteúdo.