Os resultados recentes de pesquisas conduzidas no Brasil e França em transplantes de medula óssea e de sangue de cordão umbilical, como opção terapêutica de doenças autoimunes, hematológicas e onco-hematológicas, tanto no campo experimental quanto clínico, serão alguns dos destaques apresentados no dia 10 de maio, em São Paulo, durante a conferência USP-Paris-Diderot Simpósio em Hematologia e Imunologia.
Organizado pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e USP Ribeirão Preto (FMRP-USP), com apoio da Pró-Reitoria de Pesquisa USP e da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), o encontro receberá mais de 30 palestrantes, entre cientistas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e USP Ribeirão Preto (FMRP-USP), e da Université Paris-Diderot, de Paris, na França, entre outros convidados.
De acordo com o coordenador da grade de hematologia do encontro, o pesquisador do Centro de Terapia Celular do Hemocentro da FMUSP-Ribeirão Preto (CTC-HRP/FMRP-USP) Rodrigo T. Calado, a expectativa é de que a partir da troca de experiências promovida ao longo dos dois dias de encontro, sejam propostos protocolos de estudos científicos em comum entre as duas instituições, além do estabelecimento de diretrizes terapêuticas comuns.
As pesquisadoras Belinda P. Simões (CTC-HRP) e Françoise Bernaudin (Centre Hospitalier Intercommunal de Créteil) irão mostrar as evidências alcançadas em cada país no transplante de medula óssea em anemia falciforme, doença hereditária mais prevalente no Brasil. Bernaudin coordena e participa dos principais clinical trials neste campo. “Iremos apresentar nossos resultados e a partir daí iniciar um projeto em colaboração”, explica Belinda. Segundo ela, o Simpósio marca a primeira reunião de trabalho do grupo, que será formado por 11 pesquisadores de ambas as universidades.
O TMO, que já beneficia pacientes com doenças onco-hematológicas como linfomas, leucemias e mielomas, ainda não integra no Brasil o rol de procedimentos indicados como opção terapêutica. Hoje, no País, só é possível submeter ao transplante um paciente com doença falciforme nos casos em que está dentro de um protocolo de estudo, por ser considerado ainda um procedimento experimental. “Aguardamos uma revisão do regulamento técnico do transplante de medula óssea, na expectativa de que seja contemplada a anemia falciforme no rol de procedimentos de rotina do TMO”, relatou Belinda.
No campo do transplante de células-tronco de sangue de cordão umbilical o encontro terá a presença da professora de Medicina na Université Paris-Diderot, Eliane Gluckman, responsável por realizar o primeiro procedimento deste tipo no mundo, provando que o sangue de cordão pode ser utilizado como importante fonte de obtenção de células-tronco. Hoje, Eliane enfoca suas pesquisas em anemia falciforme e falência medular.
No caso da anemia aplástica, doença hematológica em que a célula-tronco hematopoética praticamente desaparece e, portanto, a medula óssea para de produzir células do sangue, como hemácias, glóbulos brancos e plaquetas, serão abordados novos protocolos de tratamento. Segundo Calado, que possui estudos recentes publicados neste campo, sendo o último em 1º de maio, no The Journal of Clinical Investigation, referentes aos mecanismos genéticos que predispõe a doença assim como resposta ao tratamento com medicação imunossupressora.
Segundo Calado, no Brasil há uma droga ainda sem registro, já aprovada nos Estados Unidos e Europa, essencial no tratamento da anemia aplástica. “Mostraremos os dados e tentaremos fazer um protocolo de cooperação entre França e Brasil no sentido de buscar opções de tratamento a estes pacientes, em detrimento de submetê-los a um transplante”, relata.
Também serão discutidos no encontro as novas diretrizes para a triagem de pacientes portadores de esclerose sistêmica que tenham indicação a transplante de células-tronco hematopoiéticas (TCTH) como opção terapêutica. Estes resultados foram apontados, inclusive, em artigo publicado na revista The Lancet, em 28 de janeiro, por pesquisadores da Northwestern University (Chicago, IL, EUA), sob a coordenação de Richard Burt e, no Brasil, por Belinda P. Simões, Maria Carolina Oliveira, Daniela A. Moraes, e pelo professor Júlio César Voltarelli (in memoriam), do Centro de Terapia Celular do Hemocentro de Ribeirão Preto, um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP).
Sobre a Conferência USP-Paris-Diderot Symposium on Hematology and Immunology
Com o objetivo de aproximar e promover o intercâmbio de experiências científicas e acadêmicas em hematologia e imunologia entre alunos, professores e pesquisadores do Brasil e da Europa, será realizado nos dias 9 e 10 de maio, em São Paulo, a conferência.
Trata-se do primeiro passo de um grande acordo acadêmico e científico estabelecido entre a USP e a Paris-Diderot, que irá abranger além da hematologia e imunologia, todas as áreas de conhecimento das instituições. Em 2014, a instituição parisiense deve se tornar a maior universidade da Europa, com mais de 100 mil alunos, ao se juntar a Paris Sorbonne, Paris 7 e demais números, sendo unificada em “Paris Sorbonne 7”.