Rafael Sampaio e a Campanha de Doadores Voluntários no Brasil

Rafael Sampaio e a Campanha de Doadores Voluntários no Brasil

 

Os hematologistas e hemoterapeutas jovens provavelmente não conhecem a história da doação voluntária de sangue no Brasil. Tampouco sabem do papel de nossa Associação Brasileira de Hematologia Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH) na mudança radical de comportamento da hemoterapia no Brasil. Também não conheceram Rafael Sampaio.

 

Rafael Sampaio faleceu dia 12 de junho, aos 67 anos de idade. Era um grande consultor de marketing e publicidade. Trabalhou na TV Globo, editou o caderno Asteriscos do Diário Popular, foi colunista e diretor de redação do Propmark. Foi editor da revista Briefing , voltada ao mercado publicitário e autor de várias publicações na área. Suas obras são referência nas principais faculdades de comunicação.

 

Conheci Rafael em 1979 quando ele era diretor da Associação Paulista de Propaganda (APP). Na época, a doação de sangue no Brasil era remunerada. Isto era uma inversão social, pois os menos favorecidos doavam sangue por dinheiro e havia um risco muito maior de doenças transmissíveis por transfusão, pois estas pessoas geralmente negavam antecedentes que poderiam impedi-las de doar.

 

Professor Doutor Celso Carlos de Campos Guerra era o presidente da nossa Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, sucedida pela ABHH. Junto com Leonel Szterling, Jacob Rosenblit, Pedro Takatu e Luis Gastão Rosenfeld formamos um grupo que logo teve a adesão de 100% de nossa classe com objetivo de em 1 ano revertermos esta situação no Brasil.

 

Procurei pessoalmente a APP e logo Rafael se voluntariou para este trabalho. Conseguiu agências de publicidade e relações públicas voluntárias e todo um esforço foi feito com anúncios de televisão, jornais e revistas e em 1 de junho de 1980 alcançamos nosso objetivo . A doação de sangue altruísta e voluntária.

 

Desta época surgiu uma amizade muito grande entre nós, mas infelizmente acabamos por nos distanciar até que tomei conhecimento pelo jornal de seu falecimento.

Em nome da diretoria atual da ABHH, e como ex-presidente na gestão 1990-1992 achei importante manter esta memória viva entre os especialistas. À Gisele e ao Gabriel todo o carinho da comunidade de hematologistas e hemoterapeutas. Em nome dos pacientes, tomo a liberdade de agradecer ao Rafael Sampaio pela maior segurança do sangue transfundido no Brasil.

São Paulo, 20 de junho de 2020

Nelson Hamerschlak

Ex-presidente da SBHH (1990-1992)/ Membro do Conselho Deliberativo da ABHH